#7

Uma aldeia nas colinas, não muito longe de Pistoria. O cemitério da aldeia era rectangular, rodeado por paredes altas, com portões de ferro forjado. À noite a maioria das tumbas estavam iluminadas, cada uma com uma vela. Mas as velas eram eléctricas, e eram ligadas com as luzes da rua. Ardiam toda a noite e eram muito mais do que os candeeiros de rua na aldeia. Passando o cemitério, a estrada levava a uma quinta. Nesta estrada de pó eu vi  um dos patos cinzentos. 

#6

O animal a seguir é um gato. Um gato completamente branco. Pertencia a uma cozinha com um chão desnivelado, uma chaminé aberta, uma mesa de madeira partida e paredes brancas rugosas. Contra as paredes, o gato era quase invisível, excepto pelos seus olhos negros. Quando virava a cabeça, desaparecia na parede. Quando saltava pelo chão ou para a mesa, era como uma criatura que tivesse escapado das paredes. A maneira como aparecia e desaparecia dava-lhe a intimidade misteriosa de um deus doméstico. Eu sempre achei que os deuses das casas são animais. Uma vezes visíveis, outras invisíveis, mas sempre presentes. Quando me sentava à mesa, o gato saltava-me para as pernas. Tinha dentes brancos afiados, tão brancos quanto o pelo. E uma língua cor-de-rosa. Como todos os gatos, jogava continuamente: com a própria cauda, com as costas das cadeiras, com restos no chão. Quando queria descansar procurava alguma coisa macia para se deitar nela. E olhando-o, fascinado, por uma semana, eu observei que sempre que podia escolhia algo branco - uma toalha, uma camisola, roupa lavada. Depois, com os olhos e a boca fechados, enrolado, tornava-se invisivel, rodeado de paredes brancas.