#27

Nenhuma das caras me é familiar. Normalmente estão quietas, mas não são imagens estáticas; estão vivas. São como a cara de alguém a pensar.É visível que não estão conscientes de que estou a olhá-las.  No entanto, consigo obrigá-las a olhar para mim. "Obrigá-las" é talvez um termo demasiado forte: não requer grande esforço da minha parte. Em vez de simplesmente olhar para um grupo delas, tenho que concentrar a minha atenção numa em particular e aí, ele ou ela, como acontece frequentemente na vida quotidiana, olha e devolve o meu olhar. A distância óptica delas até mim é normalmente três ou quatro metros, mas quando uma olha de volta, a sua expressão é tal que as nossa caras podiam estar a apenas alguns centímetros de distância. 

#26

Uma vez relatei esta experiência a um amigo. Ele disse que estaria com certeza relacionada com o facto de, durante toda a minha vida - estava nos trinta quando me começou a acontecer - eu ter olhado e ter-me concentrado sobre milhares de pinturas. Parece-me provável. Mas passa ao lado da verdadeira questão, porque a principal função da pintura, até recentemente, era representar, tornar continuamente presente, o que em breve estaria ausente. 

#25

Frequentemente, quando fecho os olhos, aparecem caras à minha frente. O que é notável em relação a elas é a sua definição. Cada cara tem a nitidez de uma gravura.