#58

Os poemas, independentemente do resultado final, atravessam campos de batalhas, tratam dos feridos, ouvem os monólogos loucos dos triunfantes ou dos assustados. Trazem uma espécie de paz. Não pela anestesia ou pelo conforto fácil, mas pelo reconhecimento e a promessa de que aquilo que foi experienciado não pode desaparecer como se nunca tivesse existido. No entanto a promessa não é a de um monumento (Quem, no campo de batalha, quer monumentos?). A promessa é que a linguagem reconhece, dá abrigo à experiência que pediu, que gritou.

#57

UMA VEZ NUM POEMA

Os poemas, mesmo quando são narrativos, não se parecem com histórias. Todas as histórias são sobre batalhas, de um tipo ou outro, que acabam em vitória e derrota. Tudo se move em direcção ao fim, quando o resultado será conhecido. 

#56

Às vezes queria escrever um livro
Um livro todo sobre o tempo
Sobre como este não existe,
Como o passado e o futuro
São um presente contínuo.
Penso que todas as pessoas - os que vivem,
os que viveram
e os que ainda viverão - estão vivos agora. 
Gostaria de desmontar este tema em pedaços,
Como um soldado desmonta a sua espingarda.


escreveu Yevgeny Vinokurov.

#55

Eu vi o futuro como o cego via o seu caminho na aldeia.

#54

Os homens e mulheres em frente da Câmara, onde a Tricolor voava, eram agora uma imagem na mente dos seus descendentes. Tinham adquirido o mistério e a estabilidade do passado. Tinham alcançado uma espécie de imcompletude completa.  Esperavam ser acabados pelo conhecimento e acções dos descendentes. E ao mesmo tempo estavam completos pois tinham-se completado a si mesmos: não podiam fazer mais. 

#53

Vi a rua da aldeia naquele momento, como se a olhasse do futuro. O que via tinha-se tornado num passado distante. Esta transformação foi calma, tão calma que parecia quieta.

#52

Às 11 da manhã estava sol e o céu azul. As escassas nuvens brancas moviam-se rapidamente sobre as montanhas. Uma nortada.

#51

Eu vi apenas a rua da aldeia, que me era tão familiar que poderia caminhá-la com os olhos vendados se tivesse um pau. Um homem cego morreu há uns anos atrás. Cego à nascença, andava pela aldeia vindo do lugarejo a quatro quilómetros dali, onde vivia. As abelhas que tinha davam mais mel que quaisquer outras da aldeia. E cortava a sua lenha com um machado, sem nunca ter cortado a mão. 

#50

16 de Julho de 1981, 11 horas. Eu não vi as cidades do futuro ou as suas tecnologias. Nem vi o colapso destas cidades. O que eu vi nada tinha a ver com profecias.

#49

Muitos entre estes homens, em alturas diferentes, tiveram a visão de uma manhã no futuro em que caminhariam de novo, indelevelmente assustados mas despreocupados, pela aldeia do seu país libertado. O anjo de pedra, se representa alguma coisa, representa essa manhã. 

#48

No plinto que está por baixo estão inscritos os quarenta e cinco nomes dos homens que caíram na guerra entre 1914 e 1918. No outro lado do plinto, foram acrescentados vinte e um nomes, depois da Segunda Grande Guerra. Sete entre estes últimos foram deportados e morreram nos campos de concentração alemães, outros foram mortos com metralhadoras muito perto do memorial. Todos estavam no Maquis. Alguns, antes de morrerem, foram torturados no hotel Pax, em  Annemasse, o quartel-geral local da Gestapo.  O anjo da guarda com mão de enfermeira apareceu nesse conhecido hotel ou nos campos de Mauthausen, Dachau e Auschwitz?