#29

Tenho sempre consciência que se abrir os meus olhos, as caras desaparecem imediatamente, tornam-se ausentes. O que é menos claro para mim é o que acontece quando fecho os olhos. Sou eu que atravesso a fronteira que normalmente as exclui, ou são elas que a atravessam? Pertencem ao passado. A certeza com que sei disto não tem nada a ver com as suas roupas ou o "estilo" das suas caras. Pertencem ao passado porque estão mortas, e eu sei isto pela forma como me olham. Olham-me com algo próximo do reconhecimento. 

#28

A expressão, embora alterada pelo carácter e a idade da cara, é sempre similar. A sua intensidade não é uma questão de emoção, ou de prazer ou dor. A cara olha-me directamente e sem palavras, mas apenas com a expressão dos olhos, afirma a realidade da sua existência. Como se o olhar tivesse chamado um nome e a cara, ao devolvê-lo, estivesse a responder "Presente!"