#19

Na realidade, estamos sempre entre dois tempos: o do corpo e o da consciência. Daí a distinção feita em todas as outras culturas entre corpo e alma.  A alma é primeiramente, e acima de tudo, o lugar de outro tempo.

#18

A explicação dada pela cultura europeia contemporânea - que, durante os últimos dois séculos, tem marginalizado cada vez mais outras explicações - é a que constroi uma lei de tempo uniforme, abstracta e unilinear aplicável  a todos os eventos, e de acordo com a qual todos os "tempos" podem ser comparados e regulados. Esta lei mantém que o Grande Carro e a fome pertencem ao mesmo cálculo, um cálculo que é indiferente a ambos. Também defende que a consciência humana é um evento, situado no tempo, como qualquer outro. Assim, uma explicação cujo objectivo é "explicar" o tempo da consciência, trata essa consciência como se fosse passiva qual estrato geológico. Se o homem moderno tornou-se muitas vezes vítima do seu próprio positivismo, o processo começa aqui com a negação ou a abolição do tempo criado pelo evento da consciência.