#33
Onde está Tony Goodwin agora? A sua morte proclama que ele nunca mais estará presente em lado algum: que cessou de existir. Fisicamente isto é verdade. No pomar, queimavam folhas há duas semanas atrás. Eu caminho entre as cinzas quando vou à vila. Cinzas são cinzas. A vida do Tony agora pertence, historicamente, ao passado. Fisicamente o seu corpo, reduzido pelo fogo ao elemento carbono, volta a entrar no processo físico do mundo. O carbono é o pré-requisito de qualquer forma de vida, a fonte do orgânico. Eu digo a mim mesmo estas coisas não no sentido de compor uma alquimia especial da imortalidade, mas para me fazer lembrar que é a minha visão do tempo que é impiedosamente examinada pela morte. Não adianta usar a morte para nos simplificarmos. O Tony já não está dentro do elo de tempo vivido por aqueles que, até recentemente, eram os seus contemporâneos. Ele está na circunferência desse elo (a circunferência não de um círculo mas de uma esfera) como estão os diamantes e as amebas. No entanto ele está também dentro desse elo como todos os mortos. Estão ali como todos-os-vivos-que não-o-são. Os mortos são a imaginação dos vivos. E para os mortos, ao contrário dos vivos, a circunferência da esfera não é fronteira nem barreira.