#111

No posto dos correios vi, no olho da minha mente, os teus dedos a desatarem o nó que dei em Auxonne.
Dez dias mais tarde parei outra vez na cidade e fui ao posto dos correios, desta vez para te mandar uma carta. Lembro-me do dia em que te enviei a encomenda e senti uma pequena dor de perda. O que tinha eu perdido? A encomenda chegou em segurança. Tinhas feito sopa com as beterrabas. E arrumaste na prateleira a garrafa de água destilada das flores de laranjeira, acima dos teus vestidos no armário. O que se tinha perdido era o pequeno futuro da encomenda. O que lamentamos nos mortos é a perca das suas esperanças. O homem-com-a-encomenda  estava como morto; não podia ter mais esperanças. O homem-com-a-carta tinha-o substituído.